sexta-feira, abril 09, 2010

(desabafo)

Hoje só me apetece fechar os olhos. Fechar os olhos e deitar tudo para fora. Deixar sair as palavras, cheias ou vazias, mas deixá-las sair. Estou cansada dos silêncios, do vazio dos sentidos. Estou farta de intrigas, do diz-que-disse, de segredos guardados e de outros revelados. Estou farta de omissões e invejas, de conversas deitadas fora, de bocas e piadas. De mentiras, de verdades inventadas e arranjadas à pressão. Estou cansada das distâncias que se criam entre laços. Estou cansada dos amiguinhos de hoje, mas amanhã já não sei. Estou mesmo cansada de egoísmos, de conversas de ocasião, de segredinhos que nunca o são. Estou cansada da distância, do fosso que se foi abrindo também entre nós. Só não estou farta dos beijos, dos cheiros, dos abraços. De todos os momentos que criei, que inventei para me manter serena. Para não deixar fugir a lucidez. Estou farta dos que são sangue do meu sangue, das angústias que se criam entre nós. Das desconfianças. Das palavras de conforto que são tantas vezes fingidas, das acusações, do perdoar sem esquecer. Estou farta de ideias de merda e de troca-tintas. Estou cansada dos rancores que se guardam nas gavetas. Estou farta dos olhares amargos e cansados. Das pessoas que não sabem viver mas que sabem como querem que os outros vivam. Estou cansada dos tostões contados e dos dados escondidos. Estou farta de aparências, dos parece-bem-ou-mal, dos sacrifícios que não deviam sê-lo. Estou farta. Farta e cansada. Tão cansada que hoje só me apetecia fechar os olhos e voltar a nascer de outro ventre.