quinta-feira, outubro 16, 2008

(XVIII)

Nevoeiro. Hoje tinha que te escrever. Ouvi sirenes toda a noite e não dormi. Sou pior que os cães. Mas pelo menos eles uivam de tal maneira que parece uma espécie de dor a querer sair. Eu não. Não durmo e rebolo na cama com frio. As lágrimas chegam e eu calo-as, é a minha especialidade, não sabias ainda? E depois, durante o dia no carro, vi-a e senti-a. Acho que só não a consegui cheirar, mas aquela presença é esmagadora. Estou angustiada e ansiosa. Cansada. Mesmo cansada. Talvez seja por isso que engulo as lágrimas, já não tenho fôlego para as pôr para fora de mim. E tenho aquela impressão na barriga. Mas tenho também a certeza de que é tudo passageiro. Mais dia menos dia e passa. Mesmo que de vez em quando venha uma noite destas, em que quase enlouqueço com a puta da sirene do farol na cabeça. Às vezes gostava de não ouvir tão bem, mas é melhor ter cuidado com as coisas que desejo. Elas podem tornar-se realidade. Prefiro as sirenes, então. E o nevoeiro.